sexta-feira, maio 25

Democratização da Música

"O ipod veio democratizar a música". É uma frase que se ouve e se lê constantemente. E é verídico. De facto nunca se ouviu tanta música como actualmente e isso em grandessíssima parte se deve aos leitores de mp3 em geral e ao ipod em particular. Nunca se viu tanta gente com phones nos ouvidos. Novos e graúdos, quase toda as pessoas têm um par de phones enfiados nos ouvidos e vários álbuns ao alcance da mão, em qualquer sítio e a qualquer hora. E quando a indústria da música descobrir como tirar proveitos desta sua omnipresença, todos sairão a ganhar. Para já, somos nós ouvintes/clientes dessa mesma indústria que nos deleitamos com a grande acessibilidade à música que o mp3 nos proporcionou. Agora é-se possível ir a um festival de música e conhecer de antemão todas as bandas presentes em palco, sem ter-se gasto um único tusto em levar a avante tal processo. A democratização da música torna-se assim em algo que me agrada bastante, pois acho que todos deveriam ouvir o máximo de música possível. Dessa experiência só se pode tirar efeitos positivos.

Mas nesta história da democratização da música, há um aspecto que pode ter efeitos negativos (em comunhão com a audição com volume excessivo) e que pode acontecer em qualquer altura, ao melhor estilo de um sketch de um qualquer programa da Britcom... lol. Esta imagem veio-me à cabeça na última viagem de comboio que efectuei na última semana, aquando do anúncio de que o Bar do Intercidades estava já ao dispor dos clientes. A verdade é que, pelo menos na minha carruagem, 99% das pessoas não ouviram tal mensagem, pelo facto de precisamente terem uns phones nos ouvidos. E assim era por duas razões: dada a democratização da musica e dado o facto de o Campeonato Nacional se decidir naquele preciso momento, ou seja, ipods e rádios estavam a bombar a fundo. E no meio daquilo, ninguém se apercebeu da mensagem do pica do comboio. Nada de grave, claro. Neste caso. Mas imaginemos então que ele estaria a anunciar um atraso de várias horas devido a um acidente na linha. Ou mesmo um incêndio numa das carruagens. A mensagem passaria de forma incólume. Ninguém ouviria e a coisa passava-se. Claro está que esta seria uma situação extrema e cómica. E pouco provável, até. Tal como um sketch de comédia. Mas este pensamento cómico leva-me a outro um pouco mais sério: a sociedade encaminha-se inevitavelmente para uma individualização. Se a TV, o computador ou a Playstation em casa já contribuem para tal, a democratização da música contribui da mesma forma. A tendência para se passar uma viagem a conversar (algo que eu por acaso nem curto...) é uma tendência cada vez mais ténue. E é apenas um dos vários efeitos secundários dessa mesma democratização.

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